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quarta-feira, março 27, 2002

Estava procurando um nome pra uma cultura que tem me deixado puto e enjoado. Acho que passo a chamar esta bobagem toda proclamada pela nova geração "indie" - que por sua vez é influenciada pelos tristes Álvaros Pereiras Júniores da vida - de LEVIANA - Logorréia Ególatra de Vanguarda Indie Antinatural Anódina. É estúpido o nome, mas veio sem querer.
Texto que a Lolô meteu no guestbook do Estraviz.

Causa e condição e o relacionamento humano
Hoje em dia, é comum falar-se sobre "relacionamentos interpessoais." Mediante bons relacionamentos interpessoais, tudo flui suavemente; caso contrário, os obstáculos e os problemas tornam-se abundantes. Os acontecimentos são produtos resultantes da combinação de forças com "a força maior denominada causa e as forças menores chamadas condições." Os relacionamentos interpessoais são uma forma de causa e condição.

Se desejarmos possuir um negócio próspero, é necessário que tenhamos capital suficiente, que pesquisemos o mercado e façamos investimentos. Se fizermos nossa lição, nosso negócio prosperará; caso contrario, falhará. Este planejamento e organização são as causas e condições do negócio.

Devemos aprender a ser humildes e compreensivos com os relacionamentos que mantemos com as outras pessoas. A arrogância inviabiliza as melhores causas e condições. Um exemplo disso é o encontro de Bodhidharma com o Imperador Wu.

O venerável Bodhidharma, primeiro patriarca da escola Ch'an, foi da Índia para o Catão, China, pelo mar, na era Ta-Tung do Imperador Wu, durante a Dinastia Ling. O Imperador rapidamente mandou enviados especiais para acompanhar Bodhidharma à capital. O Imperador Wu, ávido em exibir seus feitos, orgulhosamente perguntou a Bodhidharma: "Construí numerosos templos, publiquei muitas escrituras e apoiei a Sangha. Quanto mérito você acha que acumulei?

Refreando o entusiasmo do Imperador, Bodhidharma respondeu friamente: "Nenhum."

O Imperador ficou muito aborrecido. Perguntou ainda: "O que você quer dizer? Fiz tanto bem e importantes atos de benevolência."

Bodhidharma respondeu: "Majestade, tratam-se de causas imperfeitas e só lhe trarão recompensas menores no reino humano e celestial. São tão ilusórias quanto sombras. São apenas fenômenos vazios.

"Bem! Então o que são os méritos reais?"

"Não se prenda ao nome e à forma dos méritos", sorriu Bodhidharma. "Santifique seus pensamentos. Realize a natureza última da vacuidade. Abstenha-se da cobiça e não procure recompensas terrenas."

O Imperador não foi capaz de perceber esse profundo significado. Para exibir sua sabedoria como Imperador de seu povo, perguntou em seu tom arrogante habitual: "Entre o céu e a terra, quem é o mais santo?"

Bodhidharma viu a vaidade do Imperador. Imediatamente respondeu: "Entre o céu e a terra, não há nem santo, nem o ordinário."

O Imperador Wu perguntou em voz alta: "Você sabe quem sou eu?"

Bodhidharma esboçou um sorriso, balançou a cabeça e disse: "Eu não sei...."

O Imperador sempre se julgou um grande benfeitor do buddhismo. Era convencido e não verdadeiramente sincero para aprender a Verdade. Como poderia receber tal desfeita de Bodhidharma? Imediatamente usou seus poderes de Imperador e rudemente mandou Bodhidharma embora. Assim agindo, ele perdeu a causa e condição para aprender o Ch'an de Bodhidharma ; perdeu a excelente oportunidade para a metamorfose pelo buddhismo Chinês. Embora tenha mais tarde lamentado seu próprio comportamento e tentado chamar Bodhidharma de volta, já era tarde demais.

Como o Imperador era egoísta e sedento por fama, ele ficou aprisionado pelo nome dos méritos e foi lançado longe do Caminho do Meio. Não foi capaz de realizar a verdade última que está "além do verdadeiro ou do falso, e do bem ou do mal." Como a causa foi imprópria e as condições pobres, não era de admirar que o encontro não desse em nada.

(Hsing Yün. A Perspectiva Budista sobre Causa e Condição. São Paulo: BLIA do Brasil, 2000.)

Tchau, Emília. Mas vê se volta! É sempre bom ler o que você tem a dizer. É diferente quando está escrito. Mas quem precisa de pixels quando nossa troca vai até o corpo todo nu, até a alma em florecência? Né mes'?
Tudo morre. Na minha modesta mente, isso acontece quando a energia não se sustenta mais em algum lugar. Se é um corpo, essa eletricidade ou vida não aguenta mais, precisa se dispersar pra alimentar outras coisas, vermes, a terra, o que for. A morte das coisas é bela. Relacionamentos morrem pelo mesmo motivo. Quando duas compleições se antagonizam ou não trocam mais o que lhes satisfaz, já não trocam nada construtivo, bem, então eis a bela e necessária morte aí de novo. Deixemos morrer o que tiver que morrer. É a natureza do mundo. E é belo.

O barato é que a energia não morre. Apenas muda de endereço. Deita o cabelo e deixa a vida rolar. No final das contas, de alguma forma, a morte não há. É só um jeito inseguro de ver o universo girando, morrendo e renascendo a cada instante. A existência das coisa é perene e é por isso que eu acho a morte de tudo uma beleza.

terça-feira, março 26, 2002

Afinal, a quem importa saber que eu estou ouvindo Body and Soul, Thelonius Monk. Ninguém. É por isso que há alguns louquinhos de rua que parecem tão felizes. Eles fazem o que são.
É bom deixar claro...
Há milhões de pessoas com páginas pessoais no planeta. A cada um com sua vontade, seu objetivo, vontade alguma ou nenhum objetivo. O fato de eu estar num blog não me obriga a seguir um comportamento de grupo de blogueiros. Também tô me lixando par ser incensado na mídia, de ter blog comentado em jornal, em coluna social blogger, em bloggeiro crítico de blogger, para virar cyber referência, a coisa pop mais fofa do pedaço. Este é meu quintal eletrônico pra quem quiser passear no meu quintal. E tem uma meia dúzia de gatos pingados que curtem minha filosofia de boteco. Sem pretensão de ser coisa alguma com isso.
Chega,
Vamos ouvir música. Bad Religion...
Siga a bolinha amarela...

THE ANSWER
long ago in a dusty village, full of hunger, pain and strife, a man came forth with a vision of truth, and the way to a better life, he was convinced he had the answer, and he compelled people to follow along, but the hunger never vanished, and the man was banished, and the village dried up and died, at a time when wise men peered, through brass tubes toward the sky, the heavens changed in predictable ways, and one man was able to find, that he had thought he found the answer, and he was quick to write his revelation, but as they were scrutinized in his colleagues eyes, he soon became a mockery, don't tell me about the answer, 'cause then another one will come along soon, i don't believe you have the answer, i've got ideas too, but if you've got enough naivite, and you've got conviction, then the answer is perfect for you an urban sprawl sits choking on its discharge, overwhelmed by industry, inclined toward charity, everyone's begging for an answer, without regard validity, the searching never ends, it goes on and on and on for eternity


A propósito, chega. Cansei. Essa conversa não evolui.
É um umbigo buraco negro. Drena toda a qualquer coisa e a elimina.
Vamos passar às coisas saudáveis.

A gente se vê por aí.
Sabe aquele papo de que filho de rico é teen e filho de pobre é menor?
Poizé.
Quem é cool discursa. Quem não é, faz barraco.


É isso aí meu irmão. Tá o dito pelo dito. E a saudade permanece. Quero ter certeza de que preciso ainda da tua riqueza. Beijão.

segunda-feira, março 25, 2002

Deforme Publicitário

APARELHO DE POESIA

Sim, estamos de volta. A proposta é sempre a mesma :

- NÃO É UM SARAU !
- NÃO É UM RECITAL !
- NÃO É FESTIVAL !
- NÃO É CARNAVAL !
- NÃO Ë NATAL !

É o APARELHO DE POESIA, um encontro.
Encontro no bar.
Encontro com poemas de alta qualidade.
Encontro temático.
Encontro com a oralidade da poesia.
Encontro com pessoas que gostam de bar, de bons poemas, dos temas propostos, de ouvir/declamar poemas.

Se a melhor definição do APARELHO DE POESIA, é encontro, nada mais justo que o tema do próximo ser: PARA PESSOA. Poemas de diversos autores, épocas e lugares dialogando com a obra de Fernando Pessoa.
Dioálogo explícito entre poetas e Pessoa.

SEXTA-FEIRA, dia 05 de abril, a partir de 21h, no CALEIDOS arte e ensino.
ENTRADA : R$ 5,00
Consumação Mínima : R$ 5,00
Rua Pio XI, 1497 / tel 3021 7510 / 3021 4970.
Muitas fichas estão caindo pra mim. O budismo tem um lance que fala para não jogarmos no lixo as palavras, não se manifestar quando o seu blá-blá-blá não constrói porra nenhuma. É sabedoria do mundo: afinal tem aquele dito - "a palavra é de prata; o silêncio, de ouro". Lembrando disso comecei a perceber que estamos numa época em que muitos se manifestam para poder existir para alguém. Suas vidas vazias ou em esvaziamento precisam de um único estofo: audiência. O pior é que uma nova geração toda de jornalistas (poizé, também carrego essa alcunha besta numa carteirinha), webdesigners, webquaisquer-coisas-desde-que-tenham-o-prefixo-web, administradores, publicitários e principalmente desocupados que ganham dinheiro do pai para, segundo eles, "apoiar a cultura pop alternativa" estão começando a ser incensados justamente porque tem talento pra fazer fumaça, para falar pracaralho de uma jeito chamativo sem dizer coisa alguma. É louco ver gente defendendo duramente diversas posturas, frases, idéias, que quando você tira o sumo, não tem nada, é só forma e vazio. É o proselitismo do nada. O pior é que todo proselitismo é um porre, mesmo quando trata de algo relevante. Geralmente, a marca destes textos é algum tipo de polêmica forçada, como os jornalistas que adoram "chutar cachorro morto" metendo o pau em artistas que não acrescentam nada à cultura - pop, que seja. Ou seja, além do proselitismo, já temos o sectarismo do nada.
É isso: vida midiática é natureza morta.
É isso aí. Mosca Garageira é UNCOOL!

Vamos fazer nossa peita Lolô? Que tal letras góticas? Nada mais uncool no começo dos anos 2000.

Vamos ligar o foda-se e viver bem...
A Vida Real e os Clones Tamagoshi

Viver é real. É energia, carne, osso, fluidos corporais das mais diversas origens e tecidos. Viver pode ser também estar em contato com o mundo, chão, água e ar. Viver pode ser também viver em sociedade, ter sempre gente com quem interagir, estranhos ou conhecidos, inimigos e amigos. Meio hippie este começo né? Nada disso.

Esse papo de que estamos entrando numa era de relações interpessoais virtuais é uma merda de um fato. Nossa gente, até os melhores exemplares da nossa gente, está se virtualizando. Isso não quer dizer levar para o meio eletrônico a sua “verdade”, mas é sim criar uma nova "verdade". As pessoas metem sua própria vida em blogs e páginas pessoais de qualquer outra natureza e se travestem, jogam uma persona e a tratam como se fossem elas próprias. É claro que nunca conseguiriam colocar em pixels e palavras sua própria essência, assim como na vida real não conseguimos: não somos, afinal, quem a gente pensa que é, tampouco somos o que os outros pensam que somos. Talvez uma mescla disso possa estar perto do eu real.

Mas, geralmente, é duro olhar para nós mesmos como realmente somos. Descobrirmos tudo o que ignoramos de forma inconsciente ou consciente e isso é quase sempre um murro na boca do estômago, daqueles que te deixam num mal estar prolongado, por vezes perene. Certo, é duro, mas é necessário, é depurador, pode nos fazer melhorar, se assim quisermos.

O contrário disso é mentir pra si mesmo. Nos metermos em blogs, nos transformarmos em personagens fictícios supostamente reais, e, por fim, começarmos a acreditar que somos aqueles bichinhos cool engraçados eletrônicos que criamos, nossos clones tamagoshi. A vida não é um reality show. É real, mas não é um show. E não adianta dissimular você próprio pra si e pro mundo.

Fodeu gente. Não dá pra escapar da realidade. Você pode abrir seu coração ou outras de suas tripas em público. E o público vai consumir esse conteúdo, como consome salsichas. E quando você mesmos decreta a abertura da temporada de caça ao seu clone tamagoshi, você se pega triste, isolado, sendo atacado e, de fato, não se reconhece no personagem que criou.

Tenho um amigo que é mecânico de bicicletas. É o Guila, meu Grilo Falante, com o qual tive o prazer de tomar umas cervejas e pôr o papo em dia, ontem. Não tem computador, ganha uns R$ 500 por mês, não sabe o que é um blog. Tem dois filhinhos lindos. Adora pegar onda na praia. Tem pelo menos meia dúzia de pessoas desequilibradas que o damandam com suas mazelas. Se eu contasse as histórias do que essas pessoas fazem com ele, você diria que sua vida é um inferno. Mas não é. Ele sabe que só tem duas opções na vida real. Construir ou destruir. Não tem bônus, não tem mais de uma vida, não tem reload. Não tem como editar, cancelar ou deletar o post. Não tem guestbook, é tudo cara a cara. O que passou é memória, o que se vive é o presente e o futuro é apenas desejo.

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